Teatro épico
A ruptura dramatúrgica da ilusão teatral, a peça dentro da peça, a inserção do discurso direto ao público, o pronunciamento de sentenças críticas ou didáticas e canções sobre temas da época – todos são expedientes que o teatro conheceu e usou por milhares de anos, desde a parabasis da velha comédia de ática à canção de Salomão em A Ópera dos Três Vinténs (BERTHOLD, 2008).
Para a tradição, o objetivo da representação, da reprodução social no palco, é acumular, no público, paixões e sensações, dessa forma arrancando os espectadores de suas rotineiras aflições e tormentos cotidianos. Para Brecht, o objetivo da representação é reproduzir a vida social para uma análise minuciosa dos acontecimentos, registrando e ressaltando inclusive as possíveis alternativas das ações humanas, para que o espetáculo, entrando na relação dialética com a plateia, estabeleça um vínculo produtivo. O novo teatro se opõe ao teatro burguês. Esse comércio de entorpecentes do teatro tradicional é incompatível com a era científica, na qual se operam as transformações: curam-se doenças, varrem-se dogmas e preconceitos, criam-se soluções para as mais variadas questões a partir da crítica racional, que no campo teatral, aqueles que o constituem, façam o mesmo: quando de suas reproduções da vida social no espetáculo, vejam o teatro como experimento sociológico.
Leve em consideração a dramaturgia moderna divulgada em larga escala, como as telenovelas, por exemplo, onde existe um herói, um vilão e um enredo. Ao assistir, é como se você estivesse lá, ou seja, os atores estão representando para um público, mas eles fingem que não, eles não dialogam com você, a cena tenta ser realista ao máximo. Se, por exemplo, representa-se uma conversa à mesa durante uma refeição, dentro da cozinha, é como se esse ambiente só tivesse três paredes, pois a quarta parede é o espectador. Esta quarta parede é uma parede imaginária situada na frente do palco do teatro, através da qual a plateia assiste