Tal Brasil Qual Romance Literatura N O Documento
Literatura não é documento.
Sobre Ana Cristina César e Flora Süssekind
Jorge Wolff
Resumo: Ana C. e Flora, convivas e colegas de bancos escolares no universo acadêmico carioca da década de 70, ambas com um pé na universidade e outro no jornalismo, são abordadas criticamente a partir desse convívio e de dois ensaios resultantes dessa safra, Literatura não é documento e Tal Brasil, qual romance?, colocando-os em choque ou contraste e tomando como proposição-chave a noção devida a um teórico do cinema americano segundo a qual toda narrativa fílmica – e por extensão toda narrativa – é um “documentário”.
Palavras-chave: Crítica brasileira. Neo-naturalismo. Neo-documentalismo. Flora
Süssekind. Ana Cristina César. Literatura. Documentário.
Meu retrato buraco na parede
Ana C.
Não, não se trata de quebrar lanças mais uma vez por um “biográfico, demasiado biográfico” ou por um “literário, apenas literário”...
Flora S.
Naturalismo e neo-naturalismo, frequentemente usados como sinônimos de
“documentalismo” e “neo-documentalismo”, são termos simétricos a realismo e neorealismo (ainda que não possam ser considerados sinônimos) e que, ao mesmo tempo, remetem a seus opostos: fábula, ficção, e daí a fantasia, imaginação, as quais costumam, por sua vez, ser associadas de modo pejorativo ao que é falso ou mentiroso (cf. SAER, 1991: 2), em oposição ao que seria o real, quando não o próprio
“realismo”, seja ele de que tipo for, conforme o famoso artigo de Roman Jakobson
(1970: 120): “Declaramos realistas as obras que nos parecem verossímeis, fiéis à realidade. E já se evidencia a ambiguidade...”. Mas se o realismo, segundo a concepção marxista de um Nélson Werneck Sodré em O naturalismo no Brasil (1965), é o “problema fundamental da literatura”, e o naturalismo “uma escola, entre outras”
(SODRÉ, 1992: 53), o naturalismo especificamente “brasílico” – como foi ou tem sido lido pela linhagem da crítica abordada aqui – tornou-se uma espécie de segunda