Só, de António Nobre
A relação existente entre a vida e a obra de António Nobre é de tal modo significativa e relevante que podemos estabelecer um estreito paralelo entre a sua produção poética e os factos biográficos mais marcantes da sua vida: o seu nascimento, a infância e a adolescência vividas entre dois espaços primordiais para o poeta (a quinta do Seixo e Leça da Palmeira), a sua passagem por Coimbra, a sua estadia em Paris e, por fim, os seus derradeiros anos de vida, em busca da cura.
Mediante uma análise temática, ainda que superficial de alguns poemas, é claramente visível essa íntima relação. Importa destacar, no entanto, que esta relação evidencia a importância dos temas e dos motivos autobiográficos e não afirmam, por si só, a identificação entre o eu biográfico e o eu lírico ou narrativo.
Importa salientar que não se pretende explicar a complexidade da sua obra, baseando-se puramente nos seus dados biográficos. Pelo contrário, há que distinguir claramente a vida e a obra do poeta, porque, partilhando o pensamento de Castilho, (1983: p. 11-2) “Presentemente (…) há quem ache que se deva considerar o texto como uma realidade existente e válida por si própria (…) O circunstancialismo pessoal, o biografismo, em suma, é pois matéria inteiramente irrelevante na interpretação e apreciação de qualquer obra (…) Há porém – e nela nos incluímos – quem, não obstante reconhecer que cada obra criada tem, como tal, existência autónoma, admita por outro lado, que não pode a mesma ser somente encarada como uma realidade textual (…) A falta de sentido do valor relativo deste meio interpretativo é que segundo nos parece, tem sido o mais directo responsável pelo justo descrédito de um biografismo que assenta fundamentalmente no anedótico e no pitoresco, sem ir às raízes profundas da personalidade.”
E partilhando esta ideia, é fundamental compreender a vida de António Nobre, pois esta compreensão facilitará o entendimento das temáticas da sua poesia, da sua