São Paulo - Texto sobre Mendigos
São Paulo é isso
São Paulo é aquilo.
A parte mais transparente que as pessoas ocultam
A parte mais humana que as pessoas selvagerizam
Como se o universo fosse dividido
Como se você não pudesse ser o fodido.
Não adianta olhar pra mim com essa cara
Falta coragem pra você ver o seu reflexo?
É medo que você tem desse mundo tão complexo?
Você não acredita no que ta vendo
Um bando de estudantes nesse meio
Sentados na Praça da Sé
Confraternizando sem receio.
Em meio ao caos suburbano
Sentei, toquei e me aproximei.
Não somente escutei
Como cantei e dancei.
Zl sempre na área,
Ruas do meu bairro que foram citadas
Lugares mais do que comuns.
Onde ele foi eu já pisei
Ele se lembrou de onde eu passei.
O Coringão é o time do coração
E a cada história uma emoção.
Às vezes não querem lembrar
Outras não gostam nem de falar.
No meio da sobrevivência,
Do álcool da droga e da obediência
Existe um mundo guardado
Como se fosse cuidadosamente preservado.
É o amor do passado
O filho abandonado
A filha roubada
A esposa judiada.
Complexidade barbárie intolerância
Começam lá atrás na infância.
Familiares com grana
Liberdade com gana.
Tem segurança, tem atriz, tem porteiro.
Tem história pro dia inteiro.
A mulher vaidosa que enfrenta qualquer homem
Quem tomou nove tiros e tem a voz fraternal é apenas um homem.
Tem mendigo ligado no samba e na ginga
Tem menina grávida de salto alto bebendo pinga
Tem mulher sem dente por causa do marido
Tem mendiga escrevendo um livro.
Dormir é de noite
De dia é sobreviver
Confiança não tem
Amizade talvez.
É olho por olho e dente por dente
E um padre oferece chá quente.
Os espíritas trazem comida
Enquanto um crente com a bíblia grita
Em seu terno branco porreta
Diz que são seres do capeta.
A prisão já foi pousada
O albergue é desumano
A rua é seu lar.
Talvez um hotelzinho, uma tenda.
Quem sabe um dia se tiver uma renda.
Banho quando precisa
Já a mulher necessita
Tenda pra lavar roupa