Sustentabilidade
AGRICULTURA FAMILIAR E SUSTENTABILIDADE
José Eli da Veiga1
Para
discutir a relação entre agricultura familiar e sustentabilidade, esta comunicação está organizada em três tópicos. O primeiro, apresenta uma visão panorâmica do processo de afirmação da agricultura familiar durante os dois últimos ciclos sistêmicos de acumulação capitalista. O segundo aborda a própria natureza da emergente transição agroambiental. E o terceiro aponta as vantagens da empresa familiar para a sustentabilidade da agricultura. A CONSOLIDAÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR
Durante a primeira forte expansão do capitalismo industrial, ocorrida entre
1848-73, ninguém ousava duvidar da superioridade do “high farming”. O termo era usado para indicar a nova onda tecnológica, dominada pela debulhadora a vapor e pela colhetadeira mecânica, ambas adotadas em larga escala no sul da Inglaterra. Mas acabou servindo para identificar o surgimento de uma agricultura de tipo patronal, na qual o processo produtivo era organizado por um capitalista (que, em geral, arrendava a terra de um nobre) e executado por multidões de assalariados. Durante esses eufóricos vinte anos tudo levava a crer que a agricultura praticada em outras regiões da Grã-Bretanha e da Europa continental estava apenas atrasada.
Cedo ou tarde elas acabariam por adotar o modelo fabril de organização produtiva, como já acontecia em suas indústrias.
O fascínio pelo “high farming” foi tão forte que até os sábios dirigentes da Revolução Meiji (1868) resolveram imitar o exemplo inglês. Mas era impraticável tentar converter uma economia tão profundamente camponesa em grandes fazendas cultivadas por peões e administradas por patrões arrendatários. Mesmo os entusiastas consultores estrangeiros tiveram que desaconselhar a adoção do modelo inglês, a não ser como forma de ocupação de Hokkaido, onde ex-samurais receberam grandes glebas, nas
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Professor Associado, USP, Departamento de Economia/FEA e Programa de