Surgimento da filosofia
O mito é a primeira forma que o ser humano utilizou para dar sentido ao mundo. Ele é um tipo de saber afetivo, coletivo e dogmático. Mas chega um momento no decorrer do processo histórico que a explicação mítica passa a ser questionada, por aqueles que seriam conhecidos como os primeiros filósofos, pelos pré-socráticos, preocupados em buscar a arché, o princípio fundamental das coisas. Estes, agora, buscam dar uma explicação sustentada em argumentos racionais para o que existe. Mas como foi possível o surgimento dessa busca de explicação racional para o que existe em oposição ao pensamento mítico?
O ponto de partida para a filosofia grega foram as poesias cosmogónicas. Essas poesias explicavam o surgimento do mundo através de interpretações míticas. A passa gem do pensamento cosmogónico para o pensamento cosmológico não se deu através de um salto e nem substitui por completo o anterior. Foi um processo lento e gradativo em que uma série de fatores, como o nascimento da cidade estado, a invenção da escrita, das leis escritas, a invenção da moeda, contribuíram para que, assim como o poder e a organização da vida social, os mitos também fossem questionados.
1.1 O nascimento da cidade estado (pólis).
Segundo Jean Pierre Vernant, em As origens do pensamento grego, esse pensamento racional denominado Filosofia foi propiciado pelas formas de organização social, política e econômica da cidade-estado, que tiveram início com a invasão dos dórios na Grécia e a derrubada do poder centralizado na figura do rei divino. Assim, pode-se afirmar que a filosofia é filha da pólis grega.
O aparecimento da pólis constitui, na história do pensamento grego, um acontecimento decisivo. O palco principal da cidade deixa de ser o palácio e passa a ser a Ágora, praça pública, o lugar em que se faz a autonomia da palavra. A palavra passa a ser tão valorizada que os gregos a transformaram numa divindade, Pheitó,