Subdesenvolvimento e estagnaçao na america latina de celso furtado
Introdução
Apesar da notoriedade do autor, Subdesenvolvimento e Estagnação na América Latina, de Celso Furtado (FURTADO,1968),1 teve o destino peculiar de permanecer na memória e no debate econômico brasileiros, mais pela crítica de ampla repercussão que lhe foi dirigida por Maria da Conceição Tavares e José Serra (TAVARES E SERRA,1971) do que por seu conteúdo específico. Essa inversão de perspectivas deve-se a uma razão especial. Quando o comentário de Tavares e Serra foi publicado, em 1971, a economia brasileira já exibia um notável dinamismo. O tom pessimista de Subdesenvolvimento e Estagnação, típico da primeira metade dos anos 60, soava anacrônico; assim, não foi difícil submergir a contribuição de Furtado no amplo caudal de prognósticos estagnacionistas que vicejaram à época. O artigo de Tavares e Serra, aliás, enfatiza este aspecto: Furtado é nele apresentado como um representante da “crença da estagnação, (que) tem prejudicado significativamente as interpretações sobre o funcionamento de algumas economias da região”.2 Desse modo, controvérsias de momento acabaram por impedir que Subdesenvolvimento e Estagnação passasse à história do pensamento econômico brasileiro como o que de fato é: uma das principais obras de Celso Furtado. Acredito que uma leitura afastada do calor dos debates mostrará que o conjunto de ensaios ultrapassa a defesa do estagnacionismo e chega a representar, em conjunto com Teoria e Política do Desenvolvimento Econômico (FURTADO,1969), uma espécie de obra-síntese, no sentido de abrigar uma meditada revisão e reexposição do modelo básico de análise estruturalista, na visão de seu principal formulador. A rigor, Subdesenvolvimento e Estagnação é um dos trabalhos que mais acrescentam ao entendimento das características da economia agrário-exportadora, do processo de substituição de importações, do significado da passagem do período