pensamento celso furtado
O PENSAMENTO DE CELSO FURTADO: CRENÇAS E
DESILUSÕES
Alcides Goularti Filho*
O texto tem por objetivo mostrar as contribuições do pensamento de
Celso Furtado nos diferentes períodos da economia brasileira nos últimos cinqüenta anos. Nesse período, o Brasil se industrializou, porém manteve a mesma estrutura social desigual. Diante dessa contradição, as análises de Furtado sobre o desenvolvimento brasileiro também sofreram mudanças. Além da introdução, que apresentará os pilares intelectuais de Furtado e o seu contexto histórico, o texto discutirá: a) as origens do subdesenvolvimento brasileiro, concentradas basicamente na obra Formação econômica do Brasil; b) a sua crença na industrialização como o caminho para o desenvolvimento, analisada em
Desenvolvimento e subdesenvolvimento; c) a sua desilusão em relação à industrialização na periferia, discutida inicialmente em Um projeto para o Brasil, aprofundada em Análise do “modelo” brasileiro e acabada em O mito do desenvolvimento econômico − quando incorpora a tese da dependência cultural −;
d) o seu sentimento de angústia quando vê o desmonte do sistema nacional em
Brasil: a construção interrompida; e, por último, e) serão apontados alguns equívocos nas análises de Furtado.
O AMBIENTE FÉRTIL E AS INFLUÊNCIAS
Furtado escreveu suas principais obras num dos períodos mais férteis para a intelectualidade latino-americana: os anos 50 e 60. Período influenciado pelos “anos de alta teoria” nas décadas de 20 e 30, quando a ortodoxia foi traída
* Doutorando junto ao Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Professor do Departamento de Economia da Unesc (Universidade do Extremo
Sul Catarinense) e da Unisul (Universidade do Sul de Santa Catarina).
Economia, Curitiba, n. 23, p. 123-137, 1999. Editora da UFPR
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FILHO, A. G. O pensamento de Celso Furtado: crenças...
pelo seu fiel escudeiro: o mercado.