Soneto
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quanto mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
O texto acima exposto se trata de uma produção poética lírica formada por quatorze versos, divididos em dois quartetos e dois tercetos; assim sendo, como consta no título, temos nesta composição um soneto. Vinícius de Moraes utiliza nestes versos uma simetria intermitente, sendo as duas primeiras estrofes com uma formação decassílaba, com a qualidade dos versos classificados como raras, a tonicidade grave e uma sonoridade dita perfeita, pois há uma notável identidade dos sons finais assim como uma semelhança entre as últimas vogais e consoantes. Possui rimas soantes com disposição cruzada (A-D, B-C) de posicionamento externo, e um ritmo heroico (6-10). Curioso ressaltar que em todos os versos os ritmos são marcados pelas tônicas igualmente, sendo sempre 2-4-6-8-10.
Na primeira estrofe, o autor realiza uma exaltação ao amor, e ao mesmo tempo uma promessa de fidelidade a este; note o primeiro e segundo versos: “De tudo, ao meu amor serei atento, Antes, e com tal zelo, e sempre, [...]”. Também ocorre a valorização deste sentimento e a atenção ao fato de cuidar para que ele não diminua diante de quaisquer circunstâncias, mas antes, que seja sempre engrandecido. “[...] mesmo em face do maior encanto, Dele se encante mais meu pensamento.”