sociologia
Autor: Euclides Guimarães Neto
É PRECISO PENSAR EM ADÃO
Por: Euclides Guimarães
I SOCIEDADE HISTÓRICA
É preciso pensar num Adão ancestral de todos nós, porque é preciso identificar o Adão que, atravessando os tempos, ainda mora em cada um de nós. Premissa fundamental para entendermo-nos como entes históricos: somos mutantes constantes como pessoas e como grupos, mudamos nossos hábitos, gostos e visões de mundo tanto individual quanto coletivamente, mas as novidades que inventamos raramente sepultam as tradições. O novo nasce sobre a decadência do antigo, mas mirado neste, de forma que, quase sempre há, no novo, traços de ruptura e traços de continuidade. Mesmo quando a ênfase recai sobre as rupturas, mesmo quando o desejo de revolução mostra-se bem maior que o de restauração, mesmo quando as condições históricas empurram para grandes mudanças, mesmo quando um espírito vanguardista intenta recomeçar do zero, não há zero que se possa recuperar quando se tem história.
Uma geração tem sempre, quer goste ou não, entalhada em sua mentalidade e em seu comportamento, marcas das gerações anteriores.
Geneticamente, há mais de trinta mil anos o ser humano habita o planeta. Aquilo que, em termos de valores e conduta, nos separa de nosso mais remoto ancestral, deve-se à história e, sendo a história o produto de como vimos nos relacionando desde esse distante início, nela se apresentam desordenadamente combinados toda sorte de passados e de futuros redimensionados, reeditados, revisitados, reprojetados, nunca exatamente como antes, mas também nunca completamente diferente.
“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos” (MARX, 1978)
Nas palavras de Marx encontra-se embutida a contradição