O artigo destaca as contribuições e aponta alguns limites da Sociologia da Educação de Pierre Bourdieu. Na primeira parte, são analisadas as reflexões do autor sobre a relação entre herança familiar (sobretudo, cultural) e desempenho escolar. Na segunda parte, são discutidas suas teses sobre o papel da escola na reprodução e legitimação das desigualdades sociais. A obra do sociólogo francês Pierre Bourdieu sobre a educação permite repensar a atuação da escola, uma vez que evidencia o contraste entre a maneira como ela é concebida ideologicamente e suas reais funções, empiricamente detectadas, de acentuação de desigualdades sociais. O objetivo deste artigo é estender a abordagem bourdiana ao papel do professor, analisando a atuação docente como uma forma manifesta e objetiva do sistema de ensino, apontando as sutilezas através das quais processos de hierarquização, segregação e, consequentemente, reprodução de desigualdades são colocados em prática no ambiente da sala de aula. Pretende-se, aqui, portanto, compreender como essa função perversa da escola se expressa no ensino formal, que se materializa na figura do professor. Para isso, é necessário, primeiramente, que se exponha o argumento bourdiano sobre a reprodução das disparidades sociais pela escola, para que então se estendam suas colocações a prática educadora, problematizando as minúcias da atuação do professor em sala de aula e suas implicações. A grande contribuição da Sociologia da Educação de Pierre Bourdieu foi, sem dúvida, a de ter fornecido as bases para um rompimento frontal com a ideologia do dom e com a noção moralmente carregada de mérito pessoal. A partir de Bourdieu, tornou-se praticamente impossível analisar as desigualdades escolares, simplesmente, como frutos das diferenças naturais entre os indivíduos.
As limitações dessa abordagem, no entanto, se revelam sempre que se busca a compreensão de casos particulares (famílias, indivíduos, escolas e professores