Sociologia
Tocqueville
Marcelo Jasmin
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Despotismo e História na Obra de Alexis de Tocqueville
Marcelo Jasmin
O texto que se segue resume parte de uma reflexão mais ampla que venho desenvolvendo nos últimos anos acerca da historiografia de Alexis de Tocqueville (18051859) e que trabalha para estabelecer algumas relações entre as questões que compõem a agenda política do autor - especialmente seu diagnóstico das tendências políticas inscritas no desenvolvimento da experiência igualitária das modernas sociedades de massas -, a concepção de história que expressa e a historiografia que produz. A hipótese básica que orienta esta reflexão é a de que a história constitui centro sensível da reflexão de
Tocqueville, sendo as dimensões éticas e epistemológicas do problema historiográfico tal como elaborado pelo autor solidárias à sua reflexão política sobre a questão do
"despotismo democrático". Aqui se apresenta uma leitura da imagem do despotismo democrático como diagnóstico plausível da modernidade democrática e suas conseqüências políticas para o campo da historiografia.
1. O DILEMA TOCQUEVILLEANO
O contexto mais abrangente desta hipótese é dado por aquilo que considero ser o
"dilema tocquevilleano" e que aqui formulo como interpretação ou releitura da tensão entre igualdade e liberdade tradicionalmente encontrada em sua obra: o dilema tocquevilleano se expressa na concepção de que a liberdade política na sociedade igualitária de massas (a
“democracia” como Tocqueville a denomina) depende de uma práxis e de um conjunto de valores cujos pressupostos tendem a ser destruídos pelo desenvolvimento continuado das disposições internas à própria democracia. O diagnóstico de Tocqueville acerca das sociedades modernas afirma que o individualismo