Sociologia
A ascese é uma ética de virtuosos que diz, sobretudo respeito às religiões de salvação do Ocidente. Nestas, verifica-se uma sistematização metódica da conduta da vida e uma funcionalização das organizações terrestres, porque o fiel considera-se como um instrumento da vontade divina, tanto no caso da ascese que foge do mundo, própria do monge católico, como da ascese intramundana protestante que quer glorificar Deus pela atividade profissional. A ascese desempenhou um papel revolucionário: O paradoxo de toda a ascese racional, que consiste no fato de que ela própria cria a riqueza que rejeita, armou, no entanto, da mesma maneira, uma cilada ao monarquismo de todos os tempos. Por todo o lado, templos e claustros tornaram-se eles próprios, por seu lado, locais de economia racional. Esta tendência ascética foi corrosiva no Ocidente e verificou-se, apesar das colorações místicas de certas ordens religiosas, na lectio divina dos beneditinos, na contemplação bernardina, na espiritualidade franciscana ou nos exercícios dos jesuítas. O protestantismo, portanto, não inventou o ascetismo, mas favoreceu o ascetismo "no mundo". A Reforma significou, antes de mais, a secularização da ascese, na medida em que cada cristão tinha de ser um monge na vida de todos os dias. Pela sistematização do seu comportamento e devido à desvalorização da ostentação, tanto o monge como o protestante acumulavam bens que tinham de ser reconvertidos na esfera econômica. É essa reconversão num circuito interno e fechado que explica o surgimento do capitalismo. Daí que o asceta no mundo se tornou "o homem de uma profissão". Valorizando o trabalho como vocação, o protestante concebia o sucesso numa profissão como um sinal de eleição divina. A ociosidade e a mendicidade eram vistas como outros tantos sinais da ausência da Graça. De realçar que só o protestantismo ascético associou a certeza da