Sociologia politica
Resumo A ideia de modernidades múltiplas pressupõe que a melhor forma de compreender o mundo contemporâneo — e de explicar a história da modernidade — é concebê-lo como história de constituição e reconstituição contínua de uma multiplicidade de programas culturais. O termo “modernidades múltiplas” tem duas implicações. A primeira é que modernidade e ocidentalização não são idênticas; o padrão, ou padrões, ocidentais de modernidade não constituem as únicas modernidades “autênticas”, mesmo se foram historicamente precedentes e se continuaram a ser uma referência central para outras visões da modernidade. A segunda é que o termo modernidades implica finalmente o reconhecimento de que essas modernidades não são “estáticas”, que se encontram antes em constante mutação. Palavras-chave Modernidades múltiplas, padrões institucionais e ideológicos.
I
A noção de “modernidades múltiplas” denota uma certa visão do mundo contemporâneo — também da história e das características da era moderna — que contraria as visões desde há muito prevalecentes no discurso académico e geral.1 Contraria a visão das teorias “clássicas” da modernização e da convergência das sociedades industriais, prevalecentes na década de 50, e contraria as próprias análises clássicas de Marx, Durkheim e, em grande medida, mesmo a de Weber, pelo menos no que respeita a uma das leituras que permite a sua obra. Todas elas assumiam, mesmo que só implicitamente, que o programa cultural da modernidade, tal como se desenvolveu na Europa, e as constelações institucionais básicas que aí emergiram, acabariam por dominar todas as sociedades modernas e em modernização; com a expansão da modernidade, viriam a prevalecer por todo o mundo (Kamenka, 1983; Weber, 1978; 1968a; 1968b; e 1958; Runciman, 1978; Bellah, 1973; Jay, 1984). A realidade que emergiu na sequência do chamado começo da modernidade, e especialmente depois da II Guerra Mundial, não suportou estas assunções. Os