Sociedade dos individuos
NORBERT ELIAS
“indivíduo e sociedade”
A relação da pluralidade de pessoas com a pessoa singular a que chamamos "indivíduo", bem como da pessoa singular com a pluralidade, não é nada clara em nossos dias.
Mas é freqüente não nos darmos conta disso, e menos ainda do porquê.
Dispomos dos conhecidos conceitos de "indivíduo" e "sociedade":
“indivíduo e sociedade”
O primeiro, se refere ao ser humano singular como se fora uma entidade existindo em completo isolamento;
O segundo, costuma oscilar entre duas idéias opostas, mas igualmente enganosas:
A sociedade é entendida, quer como mera acumulação, coletânea somatória e desestruturada de muitas pessoas individuais;
Quer como objeto que existe para além dos indivíduos e não é passível de maior explicação.
Entidades ontologicamente diferentes
Neste último caso, as palavras de que dispomos, os conceitos que influenciam decisivamente o pensamento e os atos das pessoas que crescem na esfera delas, fazem com que o ser humano singular, rotulado de indivíduo, e a pluralidade das pessoas, concebida como sociedade, pareçam ser duas entidades ontologicamente diferentes.
É incomum falar-se em uma sociedade dos indivíduos.
Talvez isso seja muito útil para nos emanciparmos do uso mais antigo e familiar que, muitas vezes, leva os dois termos a parecerem simples opostos. Libertar o pensamento da compulsão de compreender os dois termos dessa maneira é um dos objetivos deste livro. Só é possível alcançá-lo quando se ultrapassa a mera crítica negativa à utilização de ambos como opostos e se estabelece um novo modelo da maneira como, para o bem ou para o mal, os seres humanos individuais ligam-se uns aos outros numa pluralidade, isto é, numa sociedade.
O problema da relação entre indivíduo e sociedade.
É que o processo civilizador estendia-se por inúmeras gerações; pode ser rastreado ao longo do movimento observável, numa determinada direção.
Isso significava que as pessoas de uma