Sobre o Desenho e a Arte: Reflexões
Dante Velloni
DESENHAR É FÁCIL ?
Desenhar é muito fácil!
A gente desenha a todo o momento.
Eu estou desenhando estas letras. Eu estou desenhando estas palavras e linhas.
Meu gesto é o próprio desenho no espaço.
Meu passo, que me faz andar, cria desenhos instantâneos e efêmeros com meu corpo neste mesmo espaço. Compasso. Cadência da andança.
A dança.
O ritmo desordenado que compõe o perfil da cidade. O sky-line.
As nuvens, os relâmpagos e os trovões.
Então é noite.
Meu canhão de laser invade infinitamente a intimidade do espaço cósmico. Corta a negrura da noite e seu contraste mostra o desenho feito de linha/luz e nada.
Se o tudo já existe (o ser), eu prefiro desenhar o nada (o não-ser).
O nada é o resultado da soma de tudo impulsionado pelo vir-a-ser.
Portanto, eu contribuo com um pouco de tudo sempre que crio um pouco de nada.
E, se arte é o nada que se transforma em tudo, logo, quando crio desenho do nada, estou fazendo o nada vir-a-ser arte.
Meus olhos percorrem o vazio. O percurso feito pelos meus olhos desenha o nada.
E então, se eu gravasse sobre uma superfície esse percurso, essa trajetória no vazio, para que outros também pudessem ver da mesma imagem que eu vi?
Isto é o desenho.
Desenho é o registro visual das imagens que eu vejo ou imagino.
Portanto, para mim, o desenho passa a existir a partir do momento em que começo a olhar e compreender a forma do objeto que vou desenhar.
Depois, só preciso registrá-lo através da pressão de um material sobre uma superfície.
Minha mão deve simplesmente responder obediente e servil aos impulsos dos meus desejos. Ela está sempre subordinada e dependente da minha suprema vontade.
Vez macia, fraca, leve, lânguida quase débil.
Vez rija, consistente, valente, brava quase cruel.
Determino que minha mão, em movimentos contínuos, deva deslocar uma grafita calcada sobre uma superfície qualquer, fazendo coincidir exatamente no mesmo ponto em que