Sobre a ideologia do progresso técnico
Paulo Roberto dos Santos
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo
Ao longo dos últimos anos, o ensino de Ciência Naturais nas escolas de nível fundamental e médio vem sofrendo uma constante reformulação, não apenas em relação aos conteúdos a serem desenvolvidos, como também em relação às formas de se expor tais conteúdos ou de se atingir certas finalidades que se acredita serem finalidades próprias do ensino de Ciências Naturais.
Os volumes dos Parâmetros Curriculares Nacionais que dão as diretrizes relativas ao ensino nos cursos fundamental e médio, ao estabelecer em seu início um breve histórico acerca do ensino de Ciências nos últimos anos, lembram que até recentemente, “aos professores cabia a transmissão de conhecimentos acumulados pela humanidade. O conhecimento científico era tomado como neutro e não se punha em questão a verdade científica. A qualidade do curso era definida pela quantidade de conteúdos trabalhados”[1].
Essa forma de transmitir a Ciência acabou por omitir uma discussão que ao longo dos anos foi ganhando importância e gerando muito debate na sociedade moderna. Trata-se do tema da interação entre Ciência e Tecnologia, do progresso produzido pelas tecnologias modernas, da forma como essas tecnologias se ‘apropriam’ de descobertas científicas e geram um novo tipo de mercadoria, de grande ‘valor econômico’, que são os domínios particulares de conquistas tecnológicas protegidas por uma legislação de marcas e patentes. Observa-se que, paralelamente a um espantoso crescimento científico, cresce escandalosamente a miséria e a violência no mundo. Ao mesmo tempo em que assistimos sofisticadas conquistas no campo da técnica, presenciamos diversas formas desumanas de sobrevivência. Surgem, por isso, algumas perguntas pertinentes e inevitáveis: que progresso é esse que parece produzir um aumento da miséria em largos setores da sociedade? Que forma de progresso seria mais conveniente para se obter o