Globalização e consciência individual
Já é um lugar-comum identificar a sociedade moderna como aquela na qual o progresso da ciência e da técnica invadiu todos os setores de ação dos indivíduos que a compõe. Isto é: essa ciência e essa técnica, tendo a idéia de sua necessidade atestada perante os cidadãos potenciais da civilização, passam a integrar a sociedade não mais como recursos a serem utilizados para sua manutenção segundo os valores mesmo da cidadania, mas como a medida de uma pretensa evolução pela racionalidade. O que Junger Habermas havia proposto em seu ensaio Técnica e ciência enquanto ideologia a partir do conceito de “racionalização” introduzido por Max Weber:
A “racionalização” progressiva da sociedade está ligada à institucionalização do progresso científico e técnico. Na medida em que a técnica e a ciência penetram os setores institucionais da sociedade, transformando por esse meio as próprias instituições, as antigas legitimações se desmontam. (HABERMAS, 1980, p. 313)
Desse quadro tecnocrático nasceu o conceito de “globalização”, segundo o qual essa razão técnico-científica institucionalizada criaria os elementos necessários para a efetivação de uma cidadania universal. Entretanto, tal institucionalização só se tornou possível porque os indivíduos que compõe a sociedade perderam o controle de suas possibilidades criativas e o modo como aquelas legitimações se perpetuavam confundiu-se com as necessidades imediatas e materiais desses mesmos indivíduos. De maneira que a percepção da realidade social acaba subjugada por essas necessidades e pelos agentes que as “satisfazem”, ocultando-se a ideologia de manutenção da técnica em si e por si (ao que alguns autores chamaram de “A autoconsciência da idéia”) e a ideologia no sentido clássico de emprego de uma idéia para a justificação de determinados atos, no caso, o motor único da globalização — uma mais-valia universal. Como descreve Milton Santos em seu livro Por uma outra Globalização: