Sobre As Grandes Cidades E A Vida Do Espirito
Claudia Peterlini
A cidade moderna, pode-se dizer, inaugura um campo de reflexão e pesquisa orientado especificamente à apreensão, problematização e compreensão do que comumente é chamado de
“fenômeno urbano”. O fenômeno urbano é, pois, causa e efeito do fenômeno da grande cidade, da metrópole, cujo desencadeamento remonta aos meios de produção e às relações sociais possibilitados e potencializados pela então cidade industrial. Fenômeno percebido mais intensamente a partir da metade do século XIX, garantiu à grande cidade o locus primordial para a compreensão da sociedade moderna e também, pode-se afirmar, contemporânea. É neste locus particular que Georg Simmel tece de forma sistemática um panorama fundamentado na relação dos meios de produção capitalista e nas relações sociais advindas destes meios com a vida das e nas grandes cidades – relação, esta, que inclui o que o autor designa como “técnica da vida”. O estudo de Simmel é precursor no que tange à problemática do fenômeno urbano e antecipa pares conceituais posteriormente debatidos pelas correntes de pensamento da Escola de Chicago, por exemplo, que viriam a fundamentar os estudos nos campos disciplinares ainda incipientes da sociologia e da antropologia urbanas. Sociedade e indivíduo, objetividade e subjetividade, comunicação e interação são estes pares que permeiam a obra do autor em questão e delineiam seus argumentos.
É a partir da observação do fenômeno urbano das grandes cidades, portanto, que o autor empreende sua argumentação, afirmando, logo em princípio, que é a metrópole palco e causa da elevação do “tipo das individualidades”, em que o sujeito tende a preservar sua autonomia individual frente à sociedade e outros elementos supra-individuais, sendo este fator o âmago de onde brotam “os problemas mais profundos da vida moderna”. Buscando dados que forneçam simultaneamente elementos sociológicos e psíquicos, a “vida do espírito”, ou