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Em seu ensaio O Mito da Megalópole na Literatura Brasileira, Bárbara Freitag expõe as suas considerações sobre a questão da “megalopolização” das cidades, que ocasionou radicais processos de transformação da vida humana, refletidas nos modernos espaços urbanos. Para realizar essa análise, faz uso de três romances de autores brasileiros: Não Verás País Nenhum, de Inácio Loyola de Brandão; Samba-Enredo, de João Almino; e A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, abordando, respectivamente, as cidades de São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro.
Ao analisar esses romances, diferencia o mito da megalópole do mito na megalópole. O mito na megalópole seriam os personagens que se transformam em mitos nas grandes cidades. O mito da megalópole seria a própria cidade, que se configura um personagem fundamental nos romances e atua sobre o comportamento dos outros personagens. A sua “ação” passa a assumir um caráter mítico.
Mostra também como o mito da megalópole devora o mito na megalópole. Na era da megalópole o indivíduo não tem vez, é emudecido por uma cidade que não o enxerga nem o escuta. De pronto, já está fadado à morte.
Em A Hora da Estrela, o mito na megalópole seria a personagem principal do romance, Macabéa, e o mito da megalópole seria a cidade do Rio de Janeiro. Macabéa é devorada pelo Rio de Janeiro, cuja relação entre os dois se desfecha no infernal trânsito carioca, quando é atropelada.
Nesse romance, Rodrigo S.M., narrador onisciente, conta a história de Macabéa, personagem protagonista, vinda de Alagoas para o Rio de Janeiro, onde vivia com mais quatro colegas de quarto, além de trabalhar como datilógrafa (péssima, por sinal).
Macabéa é uma mulher comum, para quem ninguém olharia, ou melhor, a quem qualquer um desprezaria: corpo franzino, doente, feia, maus hábitos de higiene. Além disso, era alvo fácil da propaganda e da indústria cultural (para exemplificar, seu desejo maior era ser igual a Marilyn Monroe, símbolo