Sintomas
O sintoma como problema e como solução*
Sérgio Laia•• Convidado por José Vidal para falar na Seção Córdoba da Escola de Orientação Lacaniana (EOL-Córdoba), sobre “a psicanálise aplicada e suas conseqüências sobre a prática da psicanálise pura”, escolhi o tema do sintoma, por três motivos: 1) Lacan nos ensinou que a “psicanálise aplicada” 1 é sempre aplicada à terapêutica e a terapêutica implica intervenções sobre o sintoma. Mais ainda, o tratamento psicanalítico exige uma eficácia sobre o sofrimento causado pelo sintoma que, neste contexto, pode ser tratado como um problema. Mas a clínica psicanalítica também nos mostra que este problema que causa sofrimento para um sujeito tem sido para ele uma solução. 2) O que Lacan chamou de “psicanálise pura”2, muito diferente do que a Associação Internacional de Psicanálise (IPA) consagrou como “psicanálise didática”, não é uma experiência clínica alheia à terapêutica, pois nós, lacanianos, não fazemos contra-indicações especiais para os que decidem começar (ou inclusive prosseguir) uma análise para se tornarem psicanalistas, nós consideramos cada um dos que nos procuram um sujeito que sofre, ainda que esse sofredor não se apresente a nós exatamente nesses termos. Por sua vez, as indicações e contra-indicações da IPA para os candidatos a analistas são tão rígidas e ideais que me parecem tomá-los muito mais como sujeitos já praticamente curados (ou se preferem, depurados) de seus próprios sofrimentos neuróticos e, portanto, que não necessitariam tanto de uma terapia: a psicanálise didática deveria ensinar-lhes a conhecer seus próprios inconscientes para que não fossem mais enganados, permitindo-lhes analisar os que não são propriamente normais e que, por isso, deveriam ser objetos de uma terapia psicanalítica. Na orientação lacaniana, ao contrário, a “psicanálise puro” inclui a terapêutica e pode inclusive ser considerada, se não um efeito terapêutico, certamente um produto possível (mas não necessário) da terapia