Sinopse Cem dias entre ceu e mar
No relato de sua viagem, que empreendeu sozinho, Klink escreveu muito sobre a sua relação com a natureza a sua volta e o respeito que tinha por ela. Peixes dourados que acompanharam o barco a remo por boa parte da viagem, a inesperada visita de baleias e até de tubarões no meio da noite, assim como as gaivotas e as ondas foram as únicas companhias do viajante durante cem dias: “E, assim, entre discussões e mal-entendidos com as ondas, passei a conviver suportavelmente com os seus humores. Senti que não deveriam ser xingadas quando me enfurecia, pois sempre respondiam à altura.” (p. 77).
O cotidiano é feito de remar oito horas por dia, de fazer cálculos precisos, de tirar alegria da refeição deliciosamente desidratada, e de ter muito tempo para só contar consigo diante do poder maior da natureza. Dessa rotina surge um homem sem dúvidas, forte o suficiente para traduzir o que aprendeu, em belas frases (O medo de quem navega não é o mar, mas a terra) ou em sinceros e sábios lugares-comuns (No mar, o menor caminho entre dois pontos não é necessariamente o mais curto, mas aquele que conta com o máximo de condições favoráveis).
Outra questão recorrente no livro é a da solidão. Amyr Klink escreveu seus temores com relação ao mau tempo do mar e ao esgotamento de provisões de viagem, mas, curiosamente, a solidão não faz parte desses temores: “E, isolado, também não estava. Ao redor, tudo era sinal de vida. Gaivotas e aves marinhas de todo tipo, as ondas com quem discutia, pilotos e fiéis dourados aumentando dia a dia. (…) Tudo, menos solidão!” (p. 108).
O relato de Amyr Klink mostra os novos medos e objetivos do viajante moderno em relação ao viajante dos séculos passados. Os temas