Singular Ocorrência
A história narrada pelo entrevistado – como se fosse a “madeleine” de Proust – me reconduziu ao conto “Singular ocorrência” de Machado de Assis. Nesse conto, o personagem Andrade, de vinte e seis anos, meio advogado e meio político, é casado com uma bela mulher, “afetuosa, meiga, resignada”. Mas se apaixona por outra, igualmente bonita, de condição social humilde. Ele se torna não apenas seu amante, mas seu professor, fazendo com que ela evoluísse intelectualmente e nas regras de etiqueta. Instalou-a numa casa com todo o conforto existente à época. Deu-lhe uma vida tranquila e digna. A “singular ocorrência” verifica-se quando um amigo de Andrade convida-o para passar o São João em sua fazenda. O convite representa uma ausência de poucos dias. Andrade não teve como recusá-lo. Ao voltar, Andrade recebe em seu escritório a visita de Leandro, figura inexpressiva, que vive a explorá-lo com sucessivos pedidos de empréstimo.
Dessa vez, Leandro – que gostava de agradar Andrade contando-lhe “anedotas eróticas” – revela uma aventura inesperada, “uma fortuna rara, uma coisa que ele nunca esperara achar, nem merecia mesmo, porque se conhecia e não passava de um pobre-diabo”. Andando à noite pela cidade, encontrara uma “dama vestida com simplicidade, vistosa de corpo”: “ao passar rentezinha com ele, fitou-lhe muito os olhos, e foi andando devagar, como quem espera”. Leandro seguiu-a e passou a noite na casa dela. Pelas