Sinceridade e fingimento em fernando pessoa
Reinaldo silva Santana reinaldoguaxe@gmail.com O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente
Os versos que compõem o quarteto acima, são uma espécie de síntese do que seria o processo criativo literário para Fernando Pessoa. A grosso modo, podemos afirmar que em seu projeto literário há uma constante indicação de que a razão não deve ser sobrepujada pelos sentimentos, mas que ao invés disso, os sentimentos devem ser “criados”, inventiva e racionalmente, pelo poeta de maneira que melhor possam servir à sua escrita. “O poeta é um fingidor”, mas não um mero farsante inventando “coisas sem pé, nem cabeça”. Ao fingir, o poeta recria toda uma cena, enchendo de cores o que outrora estava desbotado através de sua grávida inventividade e, assim, (re)cria o mundo (seu mundo interior) e o do leitor que vai complementar o texto com sua própria leitura (compreendida aqui como interpretação), de forma que fingimento, neste contexto, é análogo à criação. Para Fernando Pessoa, ao contrário do que aconteceu no Romantismo, o poeta está longe de ser um refém das emoções, pois seu dom criativo lhe dá autonomia suficiente para “brincar” com “este comboio de cordas que se chama coração”. “A sinceridade é o grande obstáculo que o artista tem de vencer”. Assim sendo, não há motivos que impeçam o poeta de “jogar” criativamente com os próprios sentimentos, uma vez que, para o bem da literatura, os sentimentos (antagonicamente à visão romântica) devem ser sentidos com a razão. Daí a ideia de que exprimir-se poeticamente significa fingir. Fingir então, é não ser influenciado subjetivamente pelos sentimentos, pois esta influência direta comprometeria o jogo intelectual e impessoal do poeta com a poesia, já que exprimir toda e qualquer emoção de forma poética é esculpi-la com os cinzéis estéticos da linguagem, onde o resultado deste jogo é um sentimento outro. Ou seja, o poeta é