Encarar o passado sempre foi uma tarefa difícil, seja pela escassez de fontes ou pela dificuldade em encontrar palavras que consigam, ao minímo, expressar um reflexo que seja do que realmente aconteceu. O documentário "Shoah", de Claude Lanzmann, é uma prova disso. Nos últimos 40 anos, foram lançados diversos documentários que mostraram os horrores do nazismo e do genocídio judeu. Diversos cineastas fizeram suas interpretações com os materias que tinham desse passado obscuro e inimaginável que foi o Holocausto. Porém, "Shoah" se destaca mais do que meramente um filme; é uma aproximação de um passado histórico com a precaução de não banaliza-lo, mostrando em 09h30m de filme, depoimentos de sobreviventes de Chelmno, dos campos de concentração de Auschwitz, Treblinka, Sobibor e do Gueto de Varsóvia, além de entrevistas com ex-oficiais nazistas e maquinistas dos trens que conduziam os judeus para a morte O silêncio e a reclusão mostram-se alternativas muito mais fáceis de se encarar um acontecimento tão cruel e inimaginavel como foi o Holocausto. Não há uma definição - tampouco um contraponto - digno de fazer jus a tal acontecimento. Lanzmann escolheu uma abordagem um tanto quanto diferente para reproduzir esses acontecimentos em "Shoah"; levando os sobreviventes dos campos nos lugares em que essas atrocidades aconteceram. Sem a utilização de nenhum efeito gráfico, tampouco de imagens da época do ocorrido, o filme desenrola-se numa paisagem na qual fica impossível pensar que ali ocorreu tamanha atrocidade, relatando o que aconteceu segundo as lembranças e memórias de quem viveu pra contar. O filme é permeado pelos traumas daqueles que sobreviveram ao inimaginavel. Não há como, nem porque; simplesmente há a lembrança da maldade e crueldade que foi esse evento. O trauma é trabalhado por Lanzmann em suas mais diversas facetas; tanto daqueles que relatam o que passaram como para o expectador que tem uma experiência única ao ver as emoções dos relatos