Sexualidade
E
V
I
S
T
A
LATINOAMERICANA
DE
PSICOPATOLOGIA
F U N D A M E N T A L
Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., III, 3, 18-37
Sexualidade e preconceito
Paulo Roberto Ceccarelli
18
Retomando o debate sobre “sexualidade e preconceito”, o texto discute por que a sexualidade continua sendo o grande enigma do ser humano. Embora tenham ocorrido tantas “evoluções”, tabus e preconceitos em relação à sexualidade continuam a existir.
Para lançar alguma luz sobre a questão, o autor faz uma rápida digressão histórica para contextuar o pensamento ocidental em relação à sexualidade desde os primórdios do Cristianismo até o surgimento do discurso psiquiátrico no século XIX. Em seguida, é analisado o impacto causado pela teoria psicanalítica neste pensamento. Com base nas noções introduzidas pela psicanálise – sobretudo o recalcamento e os ideais – a origem do preconceito é analisada e suas conseqüências debatidas seja no âmbito social como na clínica psicanalítica e na escuta do psicanalista.
Como forma de evitar o preconceito, o autor propõe que as manifestações da sexualidade sejam compreendidas como soluções particulares que cada ser humano tem de dar diante do enigma de sua própria organização pulsional.
Palavras-chave: Sexualidade, preconceito, perversão, ideais, recalque
ARTIGOS
Os fatos da história, as interações entre a natureza humana, o desenvolvimento cultural e os precipitados das experiências primitivas não passam de um reflexo dos conflitos dinâmicos entre o ego, o id e o superego que a psicanálise estuda no indivíduo: são os mesmíssimos processos repetidos numa fase mais ampla.
Sigmund Freud
Introdução
Meu interesse ao retomar o velho debate sobre “sexualidade e preconceito” é saber por que a sexualidade continua sendo um grande enigma do ser humano. Por que, a despeito de tanta “evolução”, ainda existem tantos tabus e preconceitos em relação à sexualidade? Se observarmos as diversas reações da