Dias de frio nos fazem pensar, seja pelo maior tempo “parado” em casa ou pelo clima de tristeza, por assim dizer. E num desses dias, em que o frio mostrava seu poder pela janela do meu quarto, eu me peguei pensando no verão. Não no próximo, nem no último, mas muitos verões atrás, quando eu ainda era apenas um projeto de mim mesmo. Nostalgia é um sentimento poético, sua melancolia por vezes é linda, combina com essa gélida época, tão linda quanto devastadora. Lembro-me de tudo que fazia, e as vezes até tento refazer tentando trazer de volta aqueles verões de outrora. Que não voltam. Assisto desenhos e seriados que assistia quando pequeno, vejo os atores e, tão impactante quanto o aperto no peito que surge, me dou conta que o tempo passou para todos. Agora sou adulto... um adulto que perdeu o brilho da infância. A inocência se foi possuída por essa sociedade caótica, no qual apenas os malandros se adaptam. E os sonhos, esses foram guardados numa caixa especial em cima do armário, onde são bem cuidados e lembrados, mas de onde provavelmente nunca sairão. Guardei-os lá para abrir espaço aos meus deveres como cidadão, ter “status”, prosperar financeiramente. Ser uma pessoa bem sucedida é prioridade no mundo adulto, seguir seus sonhos fica em segundo plano. Queria compartilhar um dizer de “A Idade da Razão” que reflete bastante o que sinto e tento expressar. Como não podia deixar de ser, o autor dele é o famoso existencialista Jean-Paul Sartre. "Os dias mais recuados de sua infância, o dia em que dissera: "Serei livre", o dia em que dissera: "Serei grande", apareciam-lhe, ainda agora, com seu futuro particular, como um pequenino céu pessoal e bem redondo em cima deles, e esse futuro era ele, ele tal e qual era agora, cansado e amadurecido. Tinham direitos sobre ele e através de todo aquele tempo decorrido mantinham suas exigências, e ele tinha amiúde remorsos abafantes, porque o seu presente negligente e cético era o velho futuro dos dias passados.