Semântica do Acontecimento Quando o fato linguístico da enunciação implica uma nova temporalização

INTRODUÇÃO

A reflexão desenvolvida neste trabalho parte da obra Semântica do Acontecimento, da qual é recortada a formulação de Eduardo Guimarães (2005, p. 12) de que “o acontecimento [do dizer, a enunciação,] instala sua própria temporalidade”, o que representa uma diferença em sua própria ordem. Por uma posição materialista, o semanticista apresenta percursos de descrição das relações de sentido / de significação partindo da premissa de que o político é constitutivo do acontecimento do dizer: a enunciação. Levando-se em conta que esse recorte ocupa lugar central no corpo teórico-analítico proposto por Guimarães, quais as implicações da “nova temporalização” aberta pelo acontecimento, bem como da consideração do político como constitutivo da linguagem, para as noções de sujeito, de sentido e de língua?
Acredita-se que a sustentação no campo da Semântica de uma “nova temporalização” do acontecimento do dizer está inserida no movimento-desdobramento em relação ao empreendimento científico estruturalista, este último responsável pela absorção do acontecimento (linguístico) com a afirmação das sistematicidades. Com o advento do estruturalismo no século XX, o empreendimento das sistematicidades teve ampla adesão não somente no campo da Linguística, como também nas Ciências Humanas. Entre os vários desdobramentos (na forma de uma recusa-deslocamento-resposta) em relação ao empreendimento das sistematicidades, está aquele que propõe a análise do fato linguístico a partir de sua materialidade histórica. A Semântica do Acontecimento se situa nesta última proposta trazendo para os estudos da enunciação o político e a indissociabilidade entre os processos de significação e os processos sócio-históricos.
Portanto, pensar os contornos e as consequências da formulação de uma Semântica que toma como objeto o acontecimento (do dizer, a enunciação) implica em considerar os desdobramentos da Linguística e da Semântica ao longo dos séculos XIX e XX. De forma mais específica,