sem titulo
O enredo nos surpreende com uma sucessão de desgraças: Cândido é expulso do castelo por ser surpreendido no único encontro com Cunegundes, Mestre Pangloss é enforcado, dissecado e reaparece vivo com explicações absurdas, Cunegundes se prostitui, envelhece carcomida por infortúnios... Os personagens cruzam o mundo em busca de um encontro possível, mas estão naufragados num mar de otimismo irracional.
O leitor é contagiado pela ironia de Voltaire. As diferenças sociais, os preconceitos, os idealismos exacerbados, as guerras permanentes e não motivadas, os inocentes, a corrupção... Ricos argumentos para a vida de Cândido que teima em “sustentar que tudo está bem quando tudo está mal”, segundo os ensinamentos de Pangloss.
O velho sábio Martinho enriquece as vivências de Cândido. Surge como acompanhante e transforma-se no contraponto necessário às percepções que só encontram alicerces na filosofia ministrada por Pangloss. No trajeto final, é o olhar realista das sombras fragmentadas de desgraças e realizações que insistem em manter os caminhos primitivos e sacramentam, definitivamente, a impossibilidade de uma visão conformista e otimista.
Martinho é maniqueísta e não espera coisa alguma do mundo ou das pessoas. Seu olhar é realista, apesar de tão aviltante. “Por toda a parte os fracos abominam os poderosos perante os quais rastejam, e os poderosos os tratam como rebanhos de que vendem a lã e a carne”
“- Que mundo é este?” A indagação costura as mazelas do protagonista e encontra diversas respostas: “o melhor dos mundos possíveis” de Pangloss ou “alguma coisa de louco e abominável” de Martinho.
A grande lição é