A Selva, possuindo uma dimensão social, que o conteúdo do romance evidencia, é, porém, quanto ao estilo, profundamente naturalista, salientando mais a estranheza e a anormalidade dos comportamentos humanos do que a evidenciação das relações sociais coletivas estabelecidas justa ou injustamente na sociedade. Se a injustiça social, a miséria económica, o isolamento, o desenraizamento dos seringueiros, provindos na sua maioria do Ceará e do Maranhão, o endividamento no armazém do Binda, a ausência de perspectivas sociais optimistas de futuro motivada pela contínua queda do preço internacional da borracha, substituída gradualmente por produtos químicos sintéticos, constituem fatores realistas que animam o romance; se a atenção ao pormenor concreto da realidade – nomes de árvores, de animais, descrição de instrumentos de trabalho, de locais de trabalho, de repouso, de entretenimento, a narração pormenorizada da paisagem – são igualmente componentes realistas de A Selva, por outro lado, o cuidado posto em elementos dramáticos, de carácter vicioso, como o embrutecimentos dos seringueiros através da cachaça, a ostentação da autoridade e do poder absolutos de Juca Tristão sobre o antigo escravo Tiago, a narração de cenas de zoossexualismo, a hispostasiação de sentimentos negativos da humanidade, como o ciúme, a posse sexual sobre a menina filha de Lourenço e sobre a idosa D. Vitória, mãe de Alexandrino, e o desejo de Alberto sobre o corpo de D. Yáyá, testemunham elementos fortemente naturalistas no desenho do romance. Do mesmo modo, em recentes romances portugueses, igualmente com uma forte componente naturalista e realista, evidencia-se a brutalização a que os imigrantes estão submetidos nos estaleiros das obras, a promiscuidade existente nas suas casas (três, quatro famílias vivendo em andares de três assoalhadas), a entrega consolatória ao grogue (aguardente de cana do açúcar) entre os cabo-verdianos e guineenses, à vodka e à aguardente portuguesa entre os