segredos
Casimiro de Abreu
Eu tenho uns amores – quem é que os não tinha
Nos tempos antigos? – Amar não faz mal;
As almas que sentem paixão como a minha
Que digam, que falem em regra geral. - A flor dos meus sonhos é moça bonita Qual flor entr’aberta do dia ao raiar, Mas onde ela mora, que casa ela habita, Não quero, não posso, não devo contar!
Seu rosto é formoso, seu talhe elegante,
Seus lábios de rosa, a fala é de mel,
As tranças compridas, qual livre bacante,
O pé de criança, cintura de anel; - Os olhos rasgados são cor de safiras, Serenos e puros, azuis como o mar; Se falam sinceros, se pregam mentiras, Não quero, não posso, não devo contar!
Oh! ontem no baile com ela valsando
Senti as delícias dos anjos do céu!
Na dança ligeira qual silfo voando
Caiu-lhe do rosto seu cândido véu! - Que noite e que baile! –Seu hálito virgem Queimava-me as faces no louco valsar, As falas sentidas que os olhos falavam Não quero, não posso, não devo contar!
Depois indolente firmou-se em meu braço,
Fugimos das salas, do mundo talvez!
Inda era mais bela rendida ao cansaço
Morrendo de amores em tal languidez! - Que noite e que festa! E que lânguido rosto Banhado ao reflexo do branco luar! A neve do colo e as ondas dos seios Não quero, não posso, não devo contar!
A noite é sublime! – Tem longos queixumes,
Mistérios profundos que eu mesmo não sei;
Do mar os gemidos, do prado os perfumes,
De amor me mataram, de amor suspirei! - Agora eu vos juro... Palavra! – não minto! Ouvi-a formosa também suspirar; Os doces suspiros que os ecos ouviram Não quero, não posso, não devo contar!
Então nesse instante nas águas do rio
Passava uma barca, e o bom remador
Cantava na flauta: - “Nas noites d’estio
O céu tem estrelas, o mar tem amor!” - E a voz maviosa do bom gondoleiro Repete cantando: -“viver é amar!” –