Sapiens demens
• Os túmulos mais antigos que conhecemos são neanderthaleses. Eles indicam-nos uma coisa muito diferente de um simples enterramento para proteger os vivos da decomposição (para isso, o cadáver poderia ter sido abandonado a alguma distância, ou lançado à água). O morto está numa posição fetal (o que sugere uma crença no seu renascimento).
• A morte não só é reconhecida como facto, como a reconhecem os animais (que, além disso, já são capazes de «fazer de mortos» para enganar o inimigo),
• Para mais, a morte já é provavelmente concebida, não certamente como uma lei da natureza, mas como uma imposição quase inevitável que pesa sobre todos os vivos.
• A ligação de uma consciência de transformações, de uma consciência de imposições, de uma consciência do tempo, indicam no sapiens a emergência de um grau mais complexo e de uma qualidade nova do conhecimento consciente.
• Portanto, tudo nos indica que a consciência da morte que emerge no sapiens é constituída pela interação de uma consciência objetiva que reconhece a mortalidade e de uma consciência subjetiva que afirma, se não imortalidade, pelo menos uma transmortalidade.
• tudo se passa como se o homem fosse um simulador sincero em relação a si próprio, um histérico segundo a antiga definição clínica, transformando em sintomas objetivos aquilo que provém da sua perturbação subjetiva.
• Portanto, com o sapiens nasce a dualidade do sujeito e do objeto, laço inquebrável, ruptura intransponível que, posteriormente, todas as religiões e filosofias vão procurar, de mil maneiras, transpor ou aprofundar. O homem já dissocia efetivamente o seu destino do destino natural, embora esteja legitimamente persuadido de que a sua sobrevivência obedece às leis