Ruy belo
DO POEMA DE RUY BELO,
NÓS OS VENCIDOS DO CATOLICISMO (1970),
AO PROBLEMA DO “VENCIDISMO” CATÓLICO
JORGE REVEZ
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Sou um contrabandista e levo para hispania a primavera vista e tida na itália
Talvez me abram as malas e procurem jóias ou drogas mas a primavera não importa à polícia. E no entanto é perigosa pois não cabe no código católico
Ruy Belo, Toda a Terra, 1976.
1. Ruy Belo (1933-1978), poeta, ensaísta e crítico literário português
– um dos nomes maiores da literatura portuguesa da segunda metade do século XX – publicou nos idos de 1970, num livro intitulado Homem de
Palavra[s], o poema “Nós os Vencidos do Catolicismo” 1:
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Mestrando em História Contemporânea na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Este artigo é o resultado de um trabalho apresentado no âmbito do Seminário
“Religião na Sociedade Portuguesa Contemporânea” do Mestrado em História Contemporânea da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, sob a orientação do Prof. Doutor
António Matos Ferreira. Estamos actualmente a redigir uma dissertação de Mestrado sobre o tema deste artigo, sob a orientação do Prof. Doutor Sérgio Campos Matos.
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Seguimos a versão publicada em Homem de Palavra[s]. Introdução de Margarida
Braga Neves. 5.ª ed. Lisboa: Presença, 1997, p. 51.
LUSITANIA SACRA, 2ª série, 19-20 (2007-2008)
399-424
4 00
JORGE REVEZ
Nós os vencidos do catolicismo que não sabemos já donde a luz mana haurimos o perdido misticismo nos acordes dos carmina burana
Nós que perdemos na luta da fé não é que no mais fundo não creiamos mas não lutamos já firmes e a pé nem nada impomos do que duvidamos
Já nenhum garizim nos chega agora depois de ouvir como a samaritana que em espírito e verdade é que se adora
Deixem-me ouvir os carmina burana
Nesta vida é que nós acreditamos e no homem que dizem que criaste se temos o que temos o jogamos
«Meu deus meu deus porque me abandonaste?»
Partindo deste poema e do