Rousseau, a liberdade e o trabalho
"... na minha opinião a sociedade é tão natural à espécie humana como a decrepitude para o indivíduo e de que aos povos são necessárias as artes, as leis e os governos, como as muletas o são para os velhos. A diferença toda está em que o estado de velhice decorre unicamente da natureza do homem e o da sociedade decorre do gênero humano, não imediatamente, como quereis, mas unicamente, como o provei, graças ao auxílio de certas circunstâncias exteriores que podem acontecer ou não, ou, pelo menos, acontecer mais cedo ou mais tarde e, consequentemente, apressar ou retardar o progresso. Inúmeras dessas circunstâncias dependem mesmo da vontade do homem; vi-me obrigado, para estabelecer uma paridade perfeita, a supor no indivíduo o poder de acelerar sua velhice como a espécie tem o de retardar a sua. Tendo, pois, o estado de sociedade um termo extremo, ao qual os homens podem querer chegar mais cedo ou mais tarde, não é inútil mostrar-lhes o perigo de ir tão depressa e as misérias de uma condição que tomam como a perfeição da espécie. "1
LIBERDADE: "UMA FACA DE DOIS GUMES"
No trecho extraído da Carta ao Sr. Philopolis, Rousseau adverte que o progresso acelerado das ciências, das artes, das leis e dos governos afastaria o homem da natureza e o conduziria a uma velhice precoce. Sendo o homem livre para fazer um bom ou mal uso das faculdades que recebera potencialmente, é ele também o responsável pela maioria dos males que o afligem na vida em sociedade. A partir disso, Rousseau alerta quanto aos perigos do rápido aperfeiçoamento humano.
A perfectibilidade e as outras faculdades estão presentes, mas ainda não desenvolvidas no homem selvagem que, vivendo dos frutos que a terra lhe oferece de forma espontânea e preocupado apenas com a auto-conservação, possui poucas necessidades e prescinde da convivência com outros homens. De constituição robusta, o homem no estado de natureza não teme a morte, pois não a conhece. Suas