rota 66
Rota 66 é um livro-reportagem que, a partir da morte de três rapazes de classe média, faz um mapeamento da violência praticada pela Polícia Militar de São Paulo ao longo de mais de duas décadas, de abril de 1970 a fevereiro de 1992. Com apuração extensa e profunda, o jornalista Caco Barcellos formou um denso banco de dados, fruto de anos e anos de pesquisas, feitas das mais diversas formas, com informações sobre as mortes apontadas oficialmente como decorrentes de tiroteios entre a PM e suspeitos e sobre essas vítimas. A finalidade era desvelar o que existia por trás delas.
O trabalho de investigação jornalística é exemplar e leva a uma série de conclusões tão surpreendentes quanto preocupantes. A PM faz tantas ou mais vítimas do que as maiores batalhas da história brasileira, na maioria das vezes sem sequer as pessoas terem ficha criminal, e com raríssimos sobreviventes nos “tiroteios” – com o detalhe que o número de vítimas de crimes de cidadãos comuns (incluindo criminosos) cresceu quase sempre mais lentamente do que o de vítimas da PM. O atirar primeiro e perguntar depois, a violência pela violência, a corrupção da polícia e o forjamento de evidências, o preconceito, a intolerância: nada escapa de Barcellos, que tem também o mérito de construir uma narrativa viva, instigante, detalhando cada etapa vivenciada, com ótima descrição de cenas e ambientação, bem como diálogos ágeis. Um relato bem humano e sensível, mas sem sentimentalismos – fatores que aumentam o valor do livro.
Rota 66 é um grande livro-reportagem e uma aula de jornalismo investigativo.
» Da elaboração do banco de dados
O banco de dados do repórter – que tinha como objetivo inicial conhecer o perfil das vítimas e as circunstâncias em que elas eram mortas – foi elaborado por ele e por alguns assistentes ao longo de 17 anos (1975 a 1992), através de diferentes fontes de pesquisa, compreendendo as mortes do período de 1970 a 1992 por policiais militares da cidade de São Paulo (depois