Clubes de futebol e espaço urbano: O Galo e a capital de Minas Raphael Rajão Ribeiro* O futebol moderno é um fenômeno eminentemente urbano. Constituído em um período no qual o ocidente se industrializava e urbanizava, essa atividade atlética vivenciou sua consolidação local e expansão global em meio à emergência de importantes metrópoles. Das cidades fabris inglesas aos grandes centros da América Latina, essa modalidade esportiva se relacionou intensamente com os processos de urbanização ao longo dos séculos XIX e XX. Nesse contexto, o futebol e seus praticantes dialogaram com inúmeras questões que perpassaram a história dos centros urbanos ocidentais nos últimos cento e cinqüenta anos. Essa relação entre o esporte e a cidade não se esgota no instante em que a nova prática social era introduzida e alguns das principais cidades se industrializavam, em meio a um capitalismo emergente e à renovação dos costumes orientadas por uma idéia de modernidade que ganhava força. Várias outras ligações entre as práticas corporais institucionalizadas e os espaços urbanos, sejam metrópoles ou pequenas localidades, são possíveis e demonstram como essas duas construções históricas se interpenetram. Ao longo dessas trajetórias cruzadas diversas narrativas são construídas. Muitas delas se tornam referências para a formação de identidades. E nesse aspecto, o futebol e a cidade se influenciam mutuamente. Durante o século XX, muitas foram as localidades que tiveram em seus clubes de futebol um símbolo da identidade daquele lugar. Outros elementos de identidade local também podem ser apontados: uma vocação econômica, um grande nome da história, um monumento natural ou uma banda de música são alguns exemplos. Esses ícones, via de regra, são apropriados e inseridos em uma narrativa, constituindo-se aquilo que se convencionou chamar de tradição inventada (cf. HOBSBAWM e RANGER, 1984). Essa estruturação não implica necessariamente em um processo de criação completa de símbolos que reforçam a