A vida de david gale
PARTE I – O CONTEXTO ECONÔMICO E AS CARACTERÍSTICAS DOS PLANOS DE ESTABILIZAÇÃO
1. Introdução
Em meados da década de 60, com a introdução do sistema de correção monetária, o Brasil adotou mecanismos formais de indexação em sua economia. Isso tornou possível que, mesmo com uma inflação elevada, continuassem a existir contratos de longo prazo, os quais passaram a ter seus preços e valores corrigidos por índices de inflação. Sem a correção monetária, esses contratos seriam inviabilizados pela incerteza sobre o valor efetivo que teriam, decorridos alguns anos. A indexação formal tornou-se uma solução aparentemente fácil para se conviver com a inflação e passou a ser amplamente adotada, para maior número de contratos e preços na economia e para intervalos de tempo menores. No entanto, à medida em que possibilitava essa “convivência” com a inflação, também prejudicava o combate a suas causas. Isso porque os preços, por via da indexação disseminada, eram em proporção cada vez maior corrigidos pela inflação passada, gerando nova inflação, que iria corrigir os preços novamente no futuro e assim por diante, dando origem ao que foi denominada de inflação inercial. Como resultado, a partir da segunda metade da década de 80, a economia brasileira foi caracterizada por altíssimas e crescentes taxas de inflação e um sistema de correção monetária operando a intervalos cada vez menores. O diagnóstico de que a inflação tinha como um de seus principais componentes as causas inerciais (correção pela inflação passada) motivou uma estratégia de combate à inflação baseada no rompimento desse mecanismo inercial, ou seja, baseada na interrupção simultânea, para todos os agentes, dos mecanismos de correção monetária. A tentativa de implementar essa estratégia de estabilização resultou na decretação de sucessivos planos de estabilização, a partir do Plano Cruzado em 1986, que tinham entre suas principais características a