Romance moderno
Valéria Augusti*
RESUMO: O romance moderno surge no século XVIII e, com ele, uma polêmica em torno dos efeitos que sua leitura poderia provocar.
Desacostumados com a representação literária de situações e personagens comuns, os leitores acreditavam na veracidade de tais narrativas. Tal crença, que possibilitava uma fácil identificação dos leitores com os personagens, causava ao mesmo tempo temor e admiração. Os moralistas condenavam o gênero, pois acreditavam que ele apresentava modelos de conduta viciosos, capazes de desestruturar a ordem vigente.
Entretanto, alguns leitores ilustres afirmavam que apenas o romance seria capaz de fazer com que o leitor aceitasse os sacrifícios que a leitura requeria. Havia, portanto, um consenso sobre a capacidade de o romance servir de modelo de conduta. Essa concepção, ainda no século
XIX, quando surgiram as primeiras manifestações nacionais do gênero, está presente no discurso da crítica literária brasileira.
Palavras-chave: Romance moderno, literatura prescritiva, guia de conduta,
Brasil, Joaquim Manoel de Macedo
Romance e literatura prescritiva: Um campo de disputa
Desde pelo menos o século XVIII, quando surgem o romance moderno e hordas de admiradores do gênero, instaura-se uma polêmica em torno dos efeitos que sua leitura poderia provocar. Envolvidos em tal polêmica estavam
Diderot, o ilustre filósofo iluminista, e Madame de Staël, romancista e intelectual empenhada em propagar pela Europa o romantismo alemão.
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Doutoranda em Teoria Literária pelo Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas. E-mail: vaugusti@bol.com.br
Cadernos Cedes, ano XX, no 51, novembro/2000
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Diderot havia lido Richardson e jurava que, mesmo empobrecido e obrigado a desfazer-se de sua biblioteca, jamais abriria mão dos exemplares do romancista inglês que tanto admirava.
Hoje parece-nos um tanto absurdo imaginar que Diderot seria