Roland
O sujeito apaixonado é atravessado pela idéia de que está ou vai ficar louco.
Roland Barthes
Aos estilhaços, intertextualidades e vozes, como em O Prazer do texto, o livro
Fragmentos de um discurso amoroso (1977), de Roland Barthes oferece-se à leitura distraída do amor. O leitor, ao folheá-lo, escolhe múltiplas formas para caminhar entre os aforismos, entre os fragmentos, entre “as rajadas de linguagem, que lhe brotam graças a circunstâncias íntimas, aleatórias”.
Nessa rede de “dis-cursos” ou vozes romanescas tudo, no livro, surge como “algo que se leu, ouviu, experimentou”. “Pouco importa, no fundo, que a dispersão no texto seja rica aqui e pobre ali: há tempos mortos, muitas figuras modificam-se; algumas, sendo hipóstases de todo o discurso de amor, possuem a própria raridade - a pobreza - das essências: que dizer da Languidez, da Imagem, da Carta de Amor, uma vez que é todo o discurso de amor que está tecido de desejo, de imaginário e de declarações?”.
No “inexprimível amor” é, pois um apaixonado que fala e diz: “querer escrever o amor é enfrentar a desordem da linguagem: esta terra de loucura em que a linguagem é ao mesmo tempo muito e muito pouco excessiva (pela expansão ilimitada do eu, pela subversão emotiva) e pobre (devido aos códigos com os quais o amor a rebaixa e avilta)”.
A escrita da paixão, composta de várias outras escrituras e fragmentos, no livro comporta e se inscreve em estratégias de espetáculo do/sobre o amor, seus riscos, glórias, seus lugares-comuns e esquizofrenias, concebida para ser feita em uma situação análoga ao apaixonado. Nesse jogo discursivo do amor entre a forma e o conteúdo, entre desafios e alegrias dos atores, que se garante o espetáculo amoroso.
Apesar de não ser um texto dramático, Roland Barthes (1915-1980), propõe uma semiologia dramática do amor para apresentar a sua “enunciação” (é ele que o define, enunciação e não análise) do discurso amoroso. O livro,