Risco financeiro
Departamento de Administração da FEA-USP
"Em verdade, os negócios humanos não merecem a menor consideração da nossa parte. Todavia, somos como que obrigados a considerá-los de perto, o que não deixa de ser aborrecido. [...] O que eu digo, é que devemos aplicar-nos seriamente ao que é sério, não ao que não for. Por sua própria natureza, Deus é digno de todo o nosso zelo religioso, ao passo que o homem, conforme já o observamos, foi feito para servir de joguete nas mãos da divindade, no que, aliás, consiste todo o seu merecimento. Importa, pois, ao homem conformar-se com sua sorte e entreter-se a vida inteira com belos jogos: eis como os homens e as mulheres precisam viver, em contrário, justamente, à sua atual maneira de pensar." Platão. Leis (1980, 803bcd)
Um pouco de história...
Duas formas de acordo comercial, baseados na expectativa de um cumprimento futuro, tiveram origem direta na aposta. Para Huizinga (1980), o final da Idade Média assiste, tanto em Gênova como em Antuérpia, ao surgimento do seguro de vida sob a forma de apostas sobre futuras eventualidades de caráter não econômico. Apostava-se, por exemplo, “sobre a vida e a morte de pessoas, o nascimento de um menino ou uma menina, o resultado de viagens e peregrinações, a conquista de várias terras, praças e fortes ou cidades”. Este tipo de contrato, embora houvesse já assumido caráter puramente comercial, foi diversas vezes proibido sob a alegação de tratar-se de jogo ilegal, entre outros por, Carlos V. Apostava-se sobre a escolha de um novo Papa tal como hoje se aposta em corridas de cavalo. E, ainda no século XVII, os contratos de seguro de vida eram conhecidos pelo nome de “apostas”. Huizinga (1980) afirma que a Revolução Francesa deflagrou uma onda de seriedade no Ocidente, que perdura até os nossos dias. O esporte, as artes, os negócios, a moda, a ciência vivem uma crise lúdica.