Ricardo Reis é o heterónimo que projeta Pessoa para a Antiguidade da Grécia clássica. É o poeta que, à semelhança de Horácio, na Roma antiga, se refugia na aparente felicidade pagã que lhe vela e esbate o desespero. Inteligente e disciplinado, Reis é clássico no estilo, no rigor e no estoicismo, na adoção do paganismo, na crença “real e verdadeira nos deuses da Grécia antiga”, no exercício da razão. Fernando Pessoa, em Páginas Íntimas e de Autointerpretação, escreve: “vi que tinha erguido uma teoria neoclássica, e que a ia desenvolvendo. Achei-a bela e calculei interessante se a desenvolvesse segundo princípios que não adoto nem aceito. Ocorreu-me a ideia de a tornar um neoclassicismo científico.” Ricardo Reis, como os gregos da Antiguidade e o poeta latino Horácio, dá-nos uma filosofia assente na reflexão sobre a efemeridade e o destino que é imposto aos homens e aos deuses. Para conseguir superar a angústia causada pelo Fado (a Moira entre os gregos) e pela certeza da Morte, procura viver de acordo com a lição de sabedoria dos antigos que, com altivez e com autonomia interior, conquistaram uma liberdade, ainda que restrita, aprendendo a ataraxia como caminho para a felicidade. Diz Robert Bréchon que a “visão niilista do Mundo e da condição humana é o aspeto mais clássico e talvez mais banal da obra de Reis. Ela poder-lhe-ia inspirar um sentido trágico da vida, fazer dele um revoltado e um imprecador. Mas, pelo contrário, ele baseia nesse pessimismo uma ética da aceitação total.” Influenciado pelo mestre Caeiro, que lhe ensinou o saber primordial, Reis constrói uma filosofia de contemplação e placidez, que lhe permite ver o fluir do tempo, o liberta de comprometimentos excessivos e lhe permite ter a sensação de ser dono do seu próprio destino. Na forma e no conteúdo, Reis é o verdadeiro representante do homem clássico. Nas odes, utilizadas na antiga Grécia e por Horácio, procura a exaltação da vida; e nos valores da Antiguidade e do paganismo procura