ricardo reis

1633 palavras 7 páginas
Perfil biográfico Ao dar conta da tendência para criar em seu torno, desde criança, um mundo fictício, Pessoa afirma: " (...) Aí por 1912, salvo erro (...), veio-me à ideia escrever uns poemas de índole pagã. Esbocei umas coisas em verso irregular (...) e abandonei o caso. Esboçara-se-me contudo, numa penumbra mal urdida, um vago retrato da pessoa que estava a fazer aquilo. (Tinha nascido, sem que eu soubesse, o Ricardo Reis) ".

Contudo, é só depois de ter tido necessidade de arranjar uns discípulos para Caeiro que vai arrancar Ricardo Reis "do seu falso paganismo (...) porque nessa altura já o via". Mais adiante diz: " (...) Eu vejo diante de mim, no espaço incolor mas real do sonho, as caras, os gestos de Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Construí-lhes as idades e as vidas. Ricardo Reis nasceu em 1887 (...), no Porta, é médico e está presentemente no Brasil". Acrescenta que foi educado num colégio de jesuítas e desde 1919 vivia no Brasil porque, por ser monárquico, se havia expatria­do, e é "latinista por educação alheia, e um semi-helenista por educação própria". Fisicamente, Reis é mais baixo e mais forte que Caeiro e de tez morena.

Características temáticas e estilísticas

Com este heterónimo Pessoa projeta-se na antiguidade grega. E em termos de semelhança com o Mestre, estas são visíveis apenas na preferência pelo mundo exterior, muito embora este não seja por ele comen­tado e lhe sirva unicamente de contemplação. Mas Reis, tal como Caeiro, aconselha a aceitar a ordem das coisas e a gozar a vida pensando o menos possível, um pouco ao jeito das crianças ("Depois pensemos, crianças adultas, que a vida / Passa e não fica...”). As afinidades entre Caeiro e Reis restringem-se aos aspectos apontados, porque, na realidade, é notória a vivacidade e a ingenui­dade, o prazer e a alegria, a naturalidade e espontaneidade no Mestre, enquanto no discípulo tudo é calculado, ponderado, reflectido e bem perceptível num tom triste que

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