Ricardo antunes
Professor titular e livre-docente no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp. Especialista e pesquisador na área de Sociologia do Trabalho,
Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo e Mestre em Ciência Política pela Unicamp. Foi visiting research fellow na Universidade de Sussex, Inglaterra.
Publicou vários livros sobre as mudanças nos mundos do trabalho, entre eles: Adeus ao trabalho? (Cortez, 1995), Os sentidos do trabalho – ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho
(Boitempo, 1999), A desertificação neoliberal no Brasil (Collor, FHC e Lula) (Autores Associados) e O caracol e sua concha – ensaios sobre a nova metamorfose do trabalho (Boitempo, 2005).
ES: Professor, comecemos com a grande questão que hoje afeta os mundos do trabalho e os trabalhadores: a reconfiguração do modo de produção na chamada nova ordem mundial.
Ricardo Antunes: Podemos começar dizendo que, especialmente a partir dos anos 70 para cá, o capitalismo sofreu uma grande reestruturação, de amplitude global, que atingiu sua própria estrutura produtiva, na medida em que o padrão de acumulação taylorista e fordista começou a dar sinais de esgotamento. Trata-se de uma crise estrutural profunda que fez com que, ao longo período de acumulação do pós-guerra, se sucedesse um longo ciclo depressivo. Como exemplo, a ocidentalização dos conceitos do toyotismo – just in time, kanban, círculos de controle de qualidade etc.. Uma característica muito especial desse processo foi a produção mais flexível e mais vinculada ao consumo (em vez de produzir em massa para consumo de massa). Os capitalistas iniciaram um processo de reestruturação do capital baseado em alguns elementos: grande incremento tecnológico, com a estruturação de empresas em redes; acentuado enxugamento da força de trabalho, isto é, redução do trabalho vivo, de tal modo que pudesse haver redução de custo, e, paralelamente a essa redução, a expansão da chamada terceirização – núcleo mais restrito