Texto ricardo antunes
RICARDO ANTUNES: Professor de Sociologia do Trabalho na UNICAMP e organizador de Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil (Boitempo). É autor, dentre outros livros, de Adeus ao Trabalho? (Ed. Cortez) e Os Sentidos do Trabalho (Ed. Boitempo), além de organizar a Coleção Mundo do Trabalho (Boitempo) e Trabalho e Emancipação (Ed. Expressão Popular).
Seminário Nacional de Saúde Mental e Trabalho - São Paulo, 28 e 29 de novembro de 2008
Nesta apresentação, vamos indicar três anotações que, articuladas, oferecem uma leitura para alguns dos dilemas do trabalho neste século XXI.
I- UMA NOTA INICIAL SOBRE OS SENTIDOS DO TRABALHO: ATIVIDADE VITAL OU FAZER COMPULSÓRIO I
Na longa história da atividade humana, em sua incessante luta pela sobrevivência, pela conquista da dignidade, humanidade e felicidade social, o mundo do trabalho tem sido vital. Sendo uma realização essencialmente humana, foi no trabalho que os indivíduos, homens e mulheres, distinguiram-se das formas de vida dos animais. É célebre a distinção, feita por Marx, entre o “pior arquiteto e a melhor abelha”: o primeiro concebe previamente o trabalho que vai realizar, enquanto a abelha labora instintivamente. (Marx, 1971) Esse fazer humano tornou a história do ser social uma realização monumental, rica e cheia de caminhos e descaminhos, alternativas e desafios, avanços e recuos. E o trabalho converteu-se em um momento de mediação sócio-metabólica entre o humanidade e natureza, ponto de partida para a constituição do ser social. Sem ele, a vida cotidiana não seria possível de se reproduzir.
Mas, por outro lado, se a vida humana se resumisse exclusivamente ao trabalho,seria a efetivação de um esforço penoso, aprisionando o ser social em uma única de suas múltiplas dimensões. Se a vida humana necessita do trabalho humano e de seu potencial emancipador, ela deve recusar o trabalho que aliena e infelicita o ser social.
Vamos, então, explorar