Revisão Donos Do Poder de Raymundo Faoro

4742 palavras 19 páginas
Revisitando "Os Donos do Poder" de Raymundo Faoro: uma abordagem historiográfica Gunter Axt

O interesse dos historiadores profissionais brasileiros pelo campo da história do Direito e do Poder Judiciário no Brasil vem sendo relativamente tímido, salvo manifestas exceções como a de José Murilo de Carvalho ou Arno Wehlig. Todavia, o caminho inverso, ou seja, a contribuição de juristas para a historiografia nacional, foi trilhado com propriedade e relevância. As teses reunidas nas obras de pelo menos dois juristas, Victor Nunes Leal e Raymundo Faoro, podem ser apontadas como referências fundamentais para a construção do conhecimento histórico no País, ainda que tenham sido objeto de apropriações parciais, quando não polêmicas, e de críticas pela tradição historiográfica posterior. O traço comum entre elas reside nas considerações em torno da relação entre o estado e a sociedade.
Nesse artigo, propomo-nos a contribuir com algumas considerações para o esforço de entendimento acerca das características da reflexão teórica conduzida por Raymundo Faoro, em "Os Donos do Poder", bem como avaliar aspectos sintéticos do impacto das teses desenvolvidas nessa obra sobre a produção historiográfica brasileira e gaúcha. O esforço justifica-se não apenas em função da recente visibilidade do autor com sua posse na Academia Brasileira de Letras, como ainda pelo fato de ter trilhado caminho de destaque entre os acadêmicos nacionais: em 1998, uma enquête promovida entre diversos intelectuais pelo Caderno Mais, da Folha de São Paulo, sobre quais as mais importantes obras de não-ficção sobre o Brasil, colocou o livro de Faoro na sétima posição.
Raymundo Faoro partilhou de uma formação humanística interdisciplinar: "sou da turma de 1948 – disse – essa geração foi a última de uma Faculdade de Direito de Porto Alegre que era também uma escola de literatura, uma escola de filosofia, uma escola de sociologia". Estreou nas letras ainda jovem, quando integrou o grupo que editava a

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