Resumo
Talvez os historiadores retenham, na história da escola no século XX, um único acontecimento marcante: a irrupção dos pais como parceiros da educação escolar. Desde que o sistema foi unificado, normalmente no final do século XIX ou no inicio do século XX todas as crianças passam pela escola de ensino fundamental, em principio, “a mesma para todos”, particularmente quando se trata do ensino público. A escolaridade obrigatória constituiu uma formidável máquina de privar os pais de seu poder educativo, para “entrarem no molde” de bons fiéis, posteriormente de bons cidadãos, mais tarde de bons trabalhadores e de bons consumidores.
A lei obriga os pais não somente a proverem a educação de seus filhos, mas a cederem uma parte dela à escola. No decorrer dos remanejamentos das leis escolares, as coisas são ditas de modo menos brutal, os textos dão aos pais mais direitos: direito de entrar na escola, de serem informados, associados, consultados. A escola tornou-se obrigatória porque as crianças não tinham espontaneamente vontade de frequentá-la, nem os pais a necessidade de confiar seus filhos a ele. A escolarização obrigatória arrancou as crianças de sua família, a partir dos seis anos, por razões mais ou menos confessáveis.
A instituição escolar, em geral, não mais precisa exercer uma imposição pura; ela tem até mesmo o interesse de eufemizá-la, de se organizar para que só apareça abertamente de modo muito excepcional, de maneira a manter a ilusão de que a escolaridade apenas responde à demanda das famílias. Assim, o funcionamento atual da escola, se não for bem analisado, poderá evocar um “livre consumo”.
Um observador apressado imaginaria, que os pais, não tendo competência ou o tempo requerido para cuidar ou educar seus próprios filhos, delegariam facilmente essa tarefa a profissionais mais disponíveis ou qualificados. Por um lado, as relações entre pais e professores funcionam, sem dúvida, de acordo com este modelo: uma mãe e um