resumo
Neste trabalho serão investigados temas como: a relação entre aliteratura e as transformações políticas em África, o processo de criação literário, a guerra e o papel da criança como símbolo de esperança e fonte de inspiração para a literatura em tempos de crise. Seráevidenciada a maneira como tais assuntos são perceptíveis e fundamentais na construção do livro “A bicicleta que tinha bigodes”, de Ondjaki, atentando ainda para os recursos narrativos utilizados eelementos recorrentes nas demais produções do autor. iolência e sonho coexistem na narrativa de Ondjaki. O contexto social e político conturbado de Angola e a violência remanescente daguerra convivem com a descrição de um espaço lúdico de rememoração. O próprio título e subtítulo “A bicicleta que tinha bigodes – estórias sem luz elétrica” denuncia que se trata de uma época em quetudo é escasso para os Angolanos, mas também é forte a referência ao universo infantil e lúdico.
Há no ar uma sensação de segurança proporcionada pela familiaridade e união das personagens moradoras Introdução
Ondjaki é o pseudônimo de Ndalu de Almeida, escritor luandense nascido em 1977. Em “A bicicleta que tinha bigodes”, livro publicado em 2011 (2012 no Brasil), o autor consegue em poucaspáginas decodificar e revelar um universo de memórias que tem cor, gosto, som, e identidade própria.
Angola acaba de passar pelo violento processo de independência culminado em 1975. Ondjakiapresenta o cenário da Luanda de sua infância; generais e soldados em jipes transitam pelas ruas em meio a transmissões de telenovelas brasileiras, o barulho onipresente da Rádio Nacional, e racionamentos deágua, comida e luz já corriqueiros.
O poeta e escritor Manuel Rui é personagem camuflado na descrição de um “Tio Rui” que retira suas estórias do dia-a-dia daquele bairro, e à noite guarda restosde palavras cintilantes dentro de uma caixa, extraindo-os de seu bigode. Restos de palavras que não são mais do que