Resumo
Profa. Telma de Souza Birchal (UFMG) 2
Alguns aspectos da ética de Montaigne serão aqui desenvolvidos a partir do capítulo 31 do livro I dos Ensaios, denominado “Dos canibais”, no qual o autor fala dos povos indígenas brasileiros.3 Por certo há outros caminhos para fazê-lo, pois a reflexão ética de Montaigne se desdobra em muitos vieses; acreditamos, porém, que este não é um dos menos importantes, pois no referido capítulo estão presentes pelo menos duas questões centrais tanto no pensamento de Montaigne, quanto para a reflexão moral. A primeira, mais evidente, diz respeito à possibilidade de se conhecer o outro, o diferente.
Questão premente no tempo de Montaigne, que acabava de descobrir o Novo Mundo, e ainda hoje para nós, diante de mundos nem tão novos, mas mesmo assim inquietantes.
A segunda questão refere-se à relação entre o saber e o julgar, ou seja, à expressão do juízo moral que se exerce para além do juízo de fato sobre a verdade das coisas mesmas.
Lembremos ainda, para justificar nossa escolha deste capítulo, que Montaigne, ao apresentar seu livro ao leitor, escreve: “se eu tivesse estado entre aqueles povos que se diz viverem ainda sob a doce liberdade das primeiras leis da natureza, asseguro-te que de muito bom grado me teria pintado inteiro e nu”.4 O fato de ele desejar
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Este texto se encontra em: SANTOS, A. C. (Org.). Variações filosóficas: entre a ética e a política. São
Cristóvão: EDUFS, 2004. p.13-30.
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Agradeço ao Prof. Antônio Carlos dos Santos o convite para participar do I Colóquio sobre Ética e
Filosofia Política na UFS, no qual este trabalho foi apresentado.
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Michel de Montaigne nasceu de família nobre da região de Bordeaux, em 1533. Presenciou as guerras de religião entre católicos e protestantes e o impacto da descoberta do Novo Mundo sobre a Europa. Foi jurista e conselheiro do Parlamento de Bordeaux, prefeito da mesma cidade por dois mandatos e atuou
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