resumo
A faixa com dizeres colossais foi afixada perto da entrada da Fa— culda‹Ie de Direito da Universidade de São Paulo no Largo Sáo Framcisco: “Abaixo as Cotas de 80% para Brancos na U. 5.l².”.' O transeunte que desconhecesse o sistema de vcstibular da USP imagi- naria ‹}uc J›ara tcr alguma chance de enrrar na faculdade seria preciso provar a pele branca em primeiro lugar. — Se eli sou negro de cjue me adiantaria estudar? Afinal, se c a cor da pele o que importa, de que me adiantaria “rachar” para o vestibular? Se os outros 200 p forem dos negros, eu teria de “rachar” para ficar apeitado entre os melhoies dos negros. Melhor então que as vagas fossem distribuídas eqiiitati- vamente: 50% para brancos c 50% para negros. Mas melhor seria se eu pudesse concorrer a 100% das vagas. Mas isso scria impossívcl, já que o que importa em primeiro Iugar é a cor da pele; ou se é branco, ou .• é pr•to, e % isso quc dcclcle em que cota ei: entro.
Esta é uma possível leitura da mensagem da faixa, pois afi- nal, a despeito de todos os esforços das ciências humanas, nunca se sabe o ‹juc se passa exatamente na cabeça de outras pessoas. Do iriesmo modo, parece—me que os autores da faixa na mclhor das intcrições anti-racistas pi ocuraram o{›c rar uma inversão irõnica no ai’gumento crítico da cota racial: — Afinal, o que vocês estão rcclamando? Reivindicamos apenas 20 D elas vagas na Universida- de para os estudantes negros, cnquanto os brancos continuarão retcndo quasc a totalidade das vagas. A única difei-eriça é que ‹ta-
Anti-racismo e seits paradoxos: t‘eflexões sobre cora racial, raça e racisi‘iic›
qui em diante, eles jâ náo podcráo concorrer 100% das vagas, impedindo que o gi‘upo i acial historicamente disci’iiriiiiado tciiha alguma chance de mobilidade social.
Se as minhas duas leituras hipotéticas fizerem algum sentido, ierminarlamos no mcsmo bcco.