resumo
A mais complexa e racional categorização dos signos – a terceira tricotomia – refere-se à relação entre representamen e interpretante, donde emergem o rema, o dicente e o argumento. A categoria remática engloba o que na lógica formal se chama de termo, isto é, um enunciado impassível de averiguação de verdade, descritivo como um nome ou palavra. A palavra "cruz", isolada e fora de qualquer contexto, é certamente um rema.
Caso faça parte de uma assertiva qualquer, classifica-se como dicente (ou dicissigno). Ao contrário do rema, o dicente parece pedir confirmação de veracidade: "essa cruz representada na foto está colocada sobre o túmulo do meu avô", "meu carro é azul-vandyke" ou "o nosso salário está alto demais". O dicente, enquanto secundidade e dialogicidade, é altamente informativo – ainda que exija averiguação, na medida em que não fornece os motivos pelos quais afirma algo.
Se fornecesse, já não seria dicente, mas argumento. Enunciados encadeados de forma a evidenciar a condição de verdade de uma conclusão, ou seja, discursos de caráter persuasivo ou silogismos formais, são exemplos de argumentos. Por exemplo: "a cruz da foto acima está colocada sobre o túmulo do meu avô porque a probabilidade de haverem escrito o seu nome, Sebastião dos Santos Farias, sobre um túmulo errado é deveras reduzida, especialmente considerando-se que o índice de mortalidade em Carinhanha dificilmente ultrapassa o de um morto por dia (já que a cidade conta com menos de 5000 habitantes) e, além disso, no dia do enterro de meu avô ninguém mais foi enterrado, excluindo-se assim a possibilidade de troca ou engano de túmulo". Esse foi um argumento (dedutivo e, devo confessar, pouco elegante quando comparado aos exemplos de Aristóteles ou Peirce).
Como lógico, Peirce se preocupa em classificar os argumentos e verificar sua condição de verdade. Ao lado das já conhecidas dedução e indução, identifica uma terceira operação lógica criativa (ainda que arriscada) chamada abdução.